segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O ressurgimento da antiga filosofia Católica Romana: "Mantenha-os ignorantes e os manterá sob seu domínio".

Infelizmente, está ressurgindo dentro das nossas igrejas protestantes, a antiga filosofia da Igreja Católica Romana de alguns séculos atrás: "Mantenha-os ignorantes e os manterá sob seu domínio". Essa antiga filosofia que permeou quase todos os séculos antes da reforma protestante do século 16, tem ressurgido com toda força nesse século 21, sendo que, agora, com uma nova roupagem, com novos propagadores e com novos receptores: A igreja evangélica protestante brasileira e seus líderes!

Essa antiga filosofia, com já mencionei, estava impregnada nos clérigos da Igreja Católica Romana de alguns séculos passados. Os líderes da Igreja Católica mantinham o povo longe das Sagradas Escrituras, longe do verdadeiro conhecimento bíblico, pois esses líderes sabiam que, se o povo não tivesse o conhecimento bíblico necessário, ficaria muito mais fácil de manipular, mais fácil de fazer deles marionetes-humanas.

Quem somente podia ter acesso as Sagradas Escrituras, eram àqueles que estavam se preparando para se tornar alguma autoridade da igreja Católica Romana, e também àqueles que tinha a autoridade. Isso acontecia a séculos passados, mas infelizmente tem ocorrido a mesma coisa nesses nossos dias hodiernos. Muitos líderes da igreja evangélica brasileira estão praticando essa filosofia, pois eles sabem se realmente ensinarem a Bíblia para o povo, alguns aprenderão e combaterão os próprios que os ensinaram. Pois o Brasil está recheado de líderes evangélicos que pregam e ensinam a Palavra de Deus, mas suas vidas, seu comportamento, não se coadunam com aquilo que pregam e ensinam. Já tem o caso de outros líderes que não ensinam a Palavra de Deus para o povo, porque eles mesmos nunca a aprenderam de fato.


Quando a Reforma Protestante teve seu início no século 16, os reformadores criam que, se as Escrituras estivessem em uma língua acessível aos povos, todos os que quisessem poderiam ouvir a voz de Deus, e todos os crentes teriam acesso à presença de Deus. Frans Leonard Schalkwijk comentou muito bem esse ponto: "Para eles, [os reformadores] as Escrituras eram mais uma revelação pessoal que dogmática". Calvino, por exemplo, entendia que as Escrituras eram tão superiores a outros escritos que, "se lhes voltarmos os olhos puros e sentidos íntegros, prontamente veremos a majestade de Deus que, subjugando nossa ousadia de contraditá-la, nos compele a obedecer a ele” *.


Partindo desses princípios, a Reforma, aonde quer que chegasse, preocupava-se em colocar a Bíblia na língua do povo – e, neste particular, a tipografia foi fundamental para a Reforma – afim de que todos tivessem acesso à leitura bíblica, tornando o “reavivamento” da pregação da Palavra de Deus um dos marcos fundamentais da Reforma.
Contudo, os Reformadores esbarraram em um grande problema: o analfabetismo generalizado entre as massas. Como eu já disse anteriormente e agora faço um acréscimo: a leitura era um privilégio de poucos; de livros, então, restringia-se a médicos, nobres, ricos comerciantes e integrantes do clero.


É digno de nota que, antes mesmo do o humanista Erasmo de Roterdã (1466 – 1536) editar o Novo Testamento em Grego (1516)* e de Martinho Lutero afixar suas 95 teses às portas da Catedral de Wittenberg (31.10.1517), já se tornava visível o esforço por colocar a Bíblia no idioma nativo de cada povo. John Wycliffe (1320 – 1384), Nicholas de Hereford (? – 1420) e John Purvey (1353 – 1428) traduziram a Bíblia para o inglês no período de 1382 – 1384. Coube a Nicholas a tradução da maior parte do Antigo Testamento. Esta tradução, que incluía os apócrifos, foi feita diretamente da Vulgata, sem consultar os originais hebraicos e gregos.


Outro ponto que deve ser realçado a esse respeito é que, quanto mais se aproximava o século 16, verificou-se um desejo mais intenso de ler as escrituras. Como reflexo disso, “de 1457 a 1517 foram publicadas mais de quatrocentas edições da Bíblia”*.
Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, concluindo o seu trabalho em outubro de 1534. A sua obra é uma obra primorosa, sendo considerada o marco inicial da literatura alemã*.

Nunca e jamais podemos negar ao povo o conhecimento bíblico que nós (líderes evangélicos) adquirimos. Nunca devemos tentar proibir as nossas ovelhas de entrarem em um curso de Teologia para aprenderem mais a Santa Palavra. Nunca devemos nos sentir ameaçados por nossos membros, pelo fato de eles terem adquirido um certo grau de conhecimento bíblico e nós não. Nunca devemos atacar a Teologia dizendo que ela é do Diabo, ou dizendo que todos aqueles que fazem a teologia ficam soberbos e prepotentes, pois quem só fica soberbo e prepotente são aqueles que querem ficar, e nunca conheceram de fato Jesus. Podem conhecer a respeito dEle, mas Ele de fato, não o conhecem.

Nunca e jamais devemos tentar manipular o povo - por mais que este seja manipulável - pois Jesus não nos permite isso. Sempre devemos fazer o maior esforço (principalmente àqueles líderes que são remunerados pela igreja) para obter o máximo conhecimento da Palavra de Deus para podermos passar para o povo. Sempre devemos estimular as ovelhas de Cristo a ler e estudar a Santa Palavra do Senhor. Devemos constantemente promover em nossas congregações cursos de discipulado, ou congressos de E.B para que o povo fique mesmo bastante estruturado e edificado em Cristo pela Palavra.

É a obrigação de lideres da Igreja (se não tiverem feito), ingressarem em um curso de Teologia, para poder se prepararem espiritualmente e intelectualmente para poder instruir com maior proveito à Igreja do Senhor.

Nunca devemos amoldar as mensagens bíblicas ao desejo do povo; devemos sim, pregar o que a própria Bíblia prega; dizer o que de fato ela diz.

Que o Senhor nos livre constantemente de escondermos do povo todos os conselhos de Deus.

Em Cristo Jesus,

Thiago Rabello

Notas:

* João Calvino, As Institutas, 1.7.4.


* Erasmo de Roterdã demostrou sua preocupação em tornar a Palavra de Deus acessível ao povo. No prefacio de sua edição do Novo Testamento Grego (1516) e em outros lugares, escreveu: “Eu discordo veementemente daqueles que não permitem a particulares a leitura das Sagradas Escrituras, nem as permitem ser traduzidas em língua vulgar(...). Quero que todas as mulheres, mesmo meninas, leiam os Evangelhos e as epístolas de Paulo. Provera a Deus que a Bíblia fosse traduzida em todas as línguas, de todos os povos, para que pudesse ser lida e conhecida, não só pelos escoceses e os irlandeses, mas também pelos turcos e pelos sarracenos. Porém, o primeiro passo necessário é fazê-los inteligíveis aos leitores. Eu almejo o dia quando o lavrador recite para si mesmo porções das Escrituras enquanto vai acompanhando o arado(...).  E.J. Goodspeed, como nos veio a Bíblia, 3° edição. São Bernardo do Campo, SP: Imprensa Metodista, 1981, pág.116; John Mein, A Bíblia e como chegou até nós, 3° edição. RJ: JUERP, 1977, pág. 64.


* Lucien Febvre, Martin Lutero: um destino, 7° reimpressão, México: Fondo de Cultura Econômica, 1992, pág. 187.



* Obs: Essas informações e suas notas (exceto esta) foram extraídas do excelente livro do Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, João Calvino 500 anos, 1° edição. SP: Cultura Cristã, 2009, páginas 23-25.