domingo, 30 de outubro de 2011

Uma defesa da fé reformada

(Em comemoração ao aniversário da Reforma Protestante, transcrevo aqui um post já publicado neste blog anteriormente).

Estou furioso! Sim, você está lendo corretamente, é isto mesmo, estou furioso!

Eu não aguento mais pessoas atacando a fé reformada, dizendo que os reformados não passam de mera "letra". Dizem que vivemos fundamentados em teorias e não conhecemos o poder de Deus. Parece que para essas pessoas que se dizem crentes, somos hereges, retrógrados, afirmam que estamos presos no passado, dizem que a teologia reformada é velha, que ela não serve mais para hoje. Tais crentes que falam isso, não conhecem nenhum pingo da fé reformada, não conhecem nada sobre a Reforma Protestante do século 16.

Infelizmente essas pessoas que são contra a fé reformada vivem em nosso meio, conhecemos elas muito bem, e mais, muitos são nossos líderes, e alguns são até nossos amigos. Mas, qual é o motivo dessas pessoas que se dizem salvos não abraçarem a fé reformada? Por que eles tanto atacam a fé reformada? E em alguns deles, parece que habita neles um ódio por nós reformados.

Recentemente fiquei sabendo de um irmão conversando com outro a respeito desse assunto, que disse "esses Presbiterianos malucos...".
O motivo da discussão era se os reformados crêem ou não no Dom da Cura. E o outro irmão que é reformado estava explicando para ele que cremos sim na cura, mas à maneira de Deus, de acordo com a Sua vontade.

E parece que esse irmão não gostou e começou a falar mal dos Presbiterianos. Não estou aqui propriamente defendendo a denominação Presbiteriana - que por ela tenho particularmente um grande apreço - mas sim para fazer uma pequena defesa da fé reformada.

Geralmente quem não gosta da fé reformada e conseguentemente dos reformados são os "Superpentecostais". E também existem aqueles que até conhecem a fé reformada, mas procuram ignora - lá para poderem não ficar mal com suas denominações Pentecostais.

As acusações ao nosso respeito são várias. Enumeremos algumas:

1° Alegam que nós reformados só temos a "letra" (com a palavra letra, querem dizer que só temos o conhecimento bíblico) conosco.

2° Dizem que nossas reuniões de adoração a Deus são a mesma coisa que um Funeral, não passam de reuniões frias e sepulcrais.

3° Nos acusam de sermos muitos metódicos e detalhistas com as coisas de Deus e insensíveis ao Espírito Santo.

Mas, no que a fé reformada se baseia? No que nós reformados cremos?
Muitas das doutrinas que seguimos, são as mesmas que os nossos acusadores professam.

Então, por que o motivo dessa perseguição? Porque tantas acusações? Se o que só sabemos crer é no Evangelho do Senhor Jesus Cristo, assim como eles (bom, eu acho que eles crêem).

Tais inimigos da fé reformada se esquecem de que não estão somente perseguindo a nós, mas sim ao próprio Evangelho! Pois o que nós cremos e pregamos é tão somente que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. Isso é ou não o verdadeiro Evangelho do Senhor Jesus?

Ou será que os nossos opositores que se dizem crentes não pregam e professam essa mesma doutrina?

Lembra o que o Senhor Jesus disse para seus discípulos? "...Aquele que não está comigo é contra mim...". Nós reformados estamos intrinsecamente ligados ao Mestre e a sua Palavra. E tenho certeza que quem nos odeia, primeiramente odiou a Ele.

Tenho para mim, que não podemos viver uma vida cristã sem considerarmos o que nossos antepassados fizeram para que pudéssemos chegar até aqui. Não podemos estudar a História da Igreja Cristã e fazermos vista grossa quando se fala do século 16 e a Reforma Protestante.

Analisemos rapidamente a Reforma Protestante e suas consequências.

Se nós estudarmos a Reforma Protestante do século 16, vamos ver claramente o palco lúgubre montado em que a reforma protestante se apresentou, era um período da História completamente negro, a Igreja Católica Romana imperava de norte a Sul, as suas doutrinas deturpadas das Escrituras vigoravam com grande intensidade.

Vejamos algumas características da Igreja Católica no início do século supracitado:

1) O papado era uma potência religiosa e política, e grande parte da vida econômica girava em torno das igrejas paroquiais, ocasionando insatisfação por parte das autoridades civis, devido à intervenção do papa em seus negócios.

2) A corrupção política, econômica e moral generalizada na "igreja" e no clero contribuiu para um sentimento anticlerical.

3) Profunda carência espiritual: a igreja tinha se tornado extremamente meticulosa no confessionário e, ao mesmo tempo, induziria os fiéis a realizarem boas obras que, não poderiam deixar de ser, eram sempre insuficientes para eliminar o sentimento de culpa latente. [A experiência de Lutero, durante seu noviciado e depois como monge agostiniano, constituiu-se um bom exemplo de que a confissão auricular, os jejuns e penitências - os quais ele praticava com frequente rigor - não lhes proporcionava a paz esperada; daí ele se exceder cada vez mais aos da sua ordem - que, a partir da reforma de 1503 feita por João von Staupitz (1469-1524), era ainda mais severa - em penitências, buscando encontrar a paz com Deus e a certeza da salvação de sua alma].

Os reformadores iam contra a igreja católica por causa de seus abusos; por causa dela se colocar acima das Sagradas Escrituras. Por afirmarem veementemente que ela (a Igreja Católica) tinha o poder de autenticar as Escrituras por sua própria interpretação pessoal,e mais, ela afirmava que suas tradições estavam acima da Palavra escrita ou em pé de igualdade com a mesma. Os reformadores combatiam o ensino errôneo do Catolicismo Romano de que para se alcançar a salvação, era necessário pagar pela mesma, e assim, a Igreja Católica fatura milhões e milhões.

Os reformadores combatiam também a veneração dos santos que morreram com Cristo. Os nossos precursores diziam que não há outro Senhor e Salvador que devemos adorar, a não ser nosso Rei Jesus.

Como colocou bem o ilustre Alister McGrath: "A Reforma ocupou, e deve continuar a ocupar, um legítimo e significativo lugar na História das idéias".

Será que esses crentes que criticam a fé reformada não teriam - no lugar dos reformadores - a mesma atitude de combater todos esses erros que os reformadores combateram? A resposta é um indubitável NÃO. Não, Eles não teriam a mesma atitude.

Qual era o principal objetivo da Reforma Protestante?

A Reforma teve como principal objetivo o retorno às Sagradas Escrituras, a fim de reformar a igreja que havia caído, ao longo dos séculos, em uma decadência teológica, moral e espiritual.
A preocupação dos reformadores era principalmente a reforma da vida, da adoração e da doutrina a luz da Palavra de Deus. Desta forma, a partir da Palavra, os reformadores passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo. A Reforma foi acima de tudo uma proclamação do Evangelho cristão.

Na Reforma, a Palavra de Deus era a única autoridade, e a salvação tinha como base a obra definitiva do Senhor Jesus Cristo, consumada na cruz.

Será que para os inimigos da fé reformada os reformadores fizeram errado por tão somente proclamarem as Escrituras? E que a salvação proviesse pelo singular sacrifício de Jesus no Calvário? É por esses motivos que tais crentes têm raiva de nós reformados?

Os sola's da Reforma.

Os reformadores do século 16 organizaram as principais doutrinas das Escrituras e da Fé Reformada em cinco palavrinhas chave:Sola Escriptura(somente a Escritura), Sola Fide(somente a Fé),Sola Gratia(somente a Graça),Solus Christus(somente Cristo), e Soli deo Gloria(a Deus somente a Glória).

1) Sola Escriptura. Ao usar estas palavras, os Reformadores indicavam sua preocupação com a autoridade da Bíblia, e expressavam que a Bíblia é a única autoridade suprema - não o papa, nem a igreja, nem tradições ou concílios de igreja, menos ainda intuições pessoas ou sentimentos subjetivos - mas tão somente a Escritura.

2)Sola Fide. Quando os reformadores usaram estas palavras, se preocuparam com a pureza do Evangelho, querendo expressar que os crentes são justificados por Deus pela fé, inteiramente à parte de quaisquer obras que tenham feito ou que possam fazer. Justificação por meio de Cristo unicamente pela fé tornou-se a doutrina primordial da Reforma Protestante. Sola Fide foi chamado o princípio material da Reforma porque melhor do que qualquer outro encarna o próprio conteúdo do Evangelho. É essencial a ele. Uma frase para nós reformados muito famosa de Martinho Lutero resume bem essa doutrina: "É o artigo pelo qual a Igreja se firma ou cai".

3) Sola Gratia. Aqui a insistência deles era que os pecadores não tem nenhum direito a reivindicar alguma coisa de Deus, porque Deus não lhes deve nada senão o castigo por seus pecados, e que, se ele salva apesar de suas transgressões, como é o caso daqueles que são salvos, é só porque agrada-o fazer isso. Ensinavam que a salvação é somente pela Graça.

4) Solus Christus. Ao afirmarem tais palavras, diziam que proclamar Cristo somente é proclamá-lo como único suficiente Profeta, Sacerdote e Rei do cristão. Não precisamos de outros profetas para revelarem a vontade e a direção de Deus; na Bíblia, Jesus disse tudo que devemos ouvir, tudo que nos é necessário tanto para o conhecimento desta vida, quanto da porvir. Não precisamos de outros sacerdotes para mediar à salvação e as bênçãos de Deus; Jesus é o nosso único e suficiente mediador. Não precisamos de outros reis para controlar o pensamento e a vida do crente e da igreja, não precisamos de gurus; só Jesus é o rei de cada cristão individualmente e da sua Igreja.

5) Soli deo Gloria. Finalmente, cada uma dessas quatro frases foi resumida no lema Soli deo Gloria. Em Romanos 1.36 as palavras "A ele, pois, a glória eternamente" seguem a "porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas", significando que é porque todas as coisas são vindas realmente "dele e por meio dele, e para ele" que nós dizemos "a Deus somente seja a glória". Pensamos na Escritura? Ela é de Deus, veio a nós pela intermediação de Deus, e permanecerá eternamente para a glória de Deus. A justificação pela fé? Vem de Deus, por meio de Deus, e para a glória de Deus. A graça? A graça, também, tem a sua fonte em Deus, vem a nós pela obra de Deus o Filho, e é para a glória de Deus.

É nessas doutrinas Escriturísticas que nós reformados cremos e professamos; é nessas mesmas doutrinas que toda a Igreja do Senhor Jesus deve crer. Essas são as verdades absolutas e universais da Santa e infalível Palavra de Deus. Não viemos trazer um novo Evangelho, pregar uma nova doutrina além daquelas que já estão exaradas na Bíblia. Não somos doidos de cometer tais atos.

A Fé Reformada existe para trazer de volta as doutrinas cristãs que foram e estão sendo deixadas pela Igreja hodierna. Nós reformados temos a cada dia o compromisso de colocar as Sagradas Escrituras no centro da igreja, da sociedade e nas nossas próprias vidas.

Infelizmente, embora a Contra-Reforma Católica Romana tenha ocorrido no fim do século 16, a Contra-Reforma Protestante vem obtendo êxito nesses últimos dias.

Que possamos orar, e deixar Deus nos usar para reformar a igreja evangélica brasileira juntamente com a nossa cultura moribunda.
Quem sabe muitos desses que falam mal da Fé Reformada, um dia não abracem e passem a professa-lá?

Esse é o meu desejo.

Em Cristo, o Senhor da Reforma


Thiago Rabello

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Pentecostalismo e o Desprezo à Reforma

Por Samuel Balbino

Não me entendam mal. Se o título dessa postagem parece ofensivo não é menos do que a atitude da maioria das denominações pentecostais. Estamos no mês onde se comemora 494 anos da Reforma Protestante e sempre nessa data as denominações de confissão histórica estão promovendo seminários, palestras, congressos, simpósios. Tudo para avivar na mente das pessoas a importância desse acontecimento. Mas e as pentecostais? O que elas fazem para honrar o retorno do Cristianismo à pureza do evangelho de Cristo? Nada!

Estive fazendo uma pesquisa nos sites das principais denominações pentecostais do país e nada encontrei sobre a Reforma. O que podemos concluir com isso? Que há um desprezo sem igual por aquilo que nos possibilitou estarmos aqui hoje. A pergunta é: Por que isso acontece. Tenho algumas respostas.

Não é interessante ficar relembrando um evento que pode desenvolver nas pessoas um senso crítico que as impeça de receber as fortalezas lançadas continuamente nesses lugares. Qualquer cristão sincero e que estude fielmente a Bíblia e a história da Reforma irá encontrar sérias contradições entre o que hoje é chamado de protestantismo e aquilo que foi pejorativamente denominado protestante no século XVI. As diferenças gritantes, ao contrário do que afirmam alguns, não são irrelevantes, pois se tratam da essência e do âmago da Fé que protestou contra o papado e as aberrações deste. Ora se algo perde sua essência, isto significa que perdeu também sua identidade. Já pensou se Deus perdesse sua essência? Simplesmente não seria mais Deus. Assim também se o protestantismo perdeu sua essência e valores, logo deixou de ser protestantismo para ser qualquer outro “ismo” por aí.

Mencionar a Reforma exigiria da parte de certas lideranças o compromisso de assumir o risco de perder membresia para o estudo e meditação de assuntos que realmente são importantes para a Igreja. Na grande maioria das denominações pentecostais, e porque não dizer 99,9 % delas, predomina o antropocentrismo doente, o humanismo sofista que leva as pessoas a procurarem antes de tudo o seu próprio bem-estar. Não vemos essas denominações pregando as doutrinas da Graça de Deus como eleição, justificação, etc. Alguns talvez digam: Ah, isso é calvinismo! Ora então Lutero era calvinista, pois falou reinteiradas vezes sobre esses temas. Não amados, esses temas não são meramente calvinistas, esses eram os temas que se pregavam nos púlpitos comprometidos unicamente com a pureza do evangelho. Os púlpitos que priorizavam o genuíno evangelho. Um pastor que de fato é protestante não importuna a congregação com mensagens que alisam o ego humano, que induz o povo a uma busca por prosperidade e curas nem nada que seja material e temporário, antes os púlpitos protestantes falam de coisas eternas, ensinam como ajuntar tesouros nos céus e apontam aos pecadores qual é o caminho da salvação, ensinando-lhes a baterem na porta dos Céus implorando para serem aceitos por Deus e sua misericórdia!

Quando se faz simpósios e congressos pentecostais quais são os temas que abordam? “Vida Vitoriosa”, “Festival de Maravilhas”, “Fogo para o Brasil”, as palavras que vejo saindo dos lábios de muitos pregadores são: Cresça, conquiste, prospere, determine, profetize, grite, pule, não aceite, apareça, se engrandeça e etc. Ao invés disso deveriam dizer: Se prostre ante a majestade e soberania do Eterno, humilhe-se na presença de Deus para que ele a seu tempo vos exalte. A Igreja hoje têm perdido o sentido do que vem a ser o evangelho da humilhação. As falsas experiências sobrenaturais estão destruindo a pureza do evangelho, as visões, profecias, línguas, curas, idas ao céu e ao inferno, combates contra demônios e toda a sorte de mentiras usando as Escrituras têm prevalecido e construído uma das fortalezas mais difíceis de derrubar. E tais líderes perceberam que sem essas coisas não é possível construir grandes impérios mercantilistas travestidos de congregações e igrejas. Precisamos continuar a Reforma!

A Reforma traz à lume uma visão de Deus muito desagradável. Não pensem que foram bons motivos que levaram alguns apóstatas a abandonarem os princípios da Fé Protestante e criarem os seus próprios. O que acontece é que o pensamento reformado reconheceu a centralidade de Deus em todas as coisas, colocando o homem em último plano. Isso pode ser muito desagradável para alguns. Imaginar que suas vidas estão sendo controladas e convergindo num plano maior do qual eles não têm como saber de que forma irá terminar ao certo, pode parecer muito frustrante. A vontade de possuir o controle de tudo é o dínamo que move o homem em direção a rebeldia contra a soberania de Deus. Falar em Reforma é falar em Deus soberano. Deus soberano é o mesmo que homem incapaz e homem incapaz é o mesmo que ferir o orgulho com qual muitos se exaltam em afirmar que podem frustrar os planos e desígnios de Deus deixado-os a mercê de suas torpes decisões.

Um pentecostal jamais irá admitir plenamente a soberania de Deus, pois sua cosmovisão distorcida da realidade o leva a questionar a justiça e benignidade do Eterno julgando-os por seus próprios conceitos de justiça e retidão. Sendo assim, para muitos este é um assunto que deve permanecer em secreto, e se mencionado que se faça superficialmente para que não se desperte a curiosidade do povo e não os faça pesquisar mais sobre o mesmo e dessa forma questionar as coisas que tem aprendido rotineiramente nos “cultos de fogo”. Vejo todo esse panorama com profunda semelhança à questão dos fariseus e doutores da Lei, os quais impediam as pessoas simples de tomarem conhecimento da verdade surrupiando-lhes a chave do conhecimento. Talvez a história hoje seja a mesma, mudando-se apenas os protagonistas.

“Ai de vós, doutores da lei! porque tomastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam” (Lucas 11.52).

Fonte: http://novareforma.blogspot.com/